A revolta dos Professores - II
Algumas considerações sobre a nossa Reunião
Ontem foi um dia memorável para quem participou e preparou a Reunião de Leiria. Muitos venceram o medo e desânimo e atreveram-se a falar. Muitos deitaram para fora a revolta que lhes roi o interior há muito tempo. Foi uma festa, triste embora, mas uma festa. Teve momentos divertidos (a catarse começa por vezes pelo riso) como aquele momento em que a colega Carmelinda Pereira, animada com o momento, quase usava a expressão "camaradas" quando queria dizer colegas. Foi engraçado ver os professores rirem das maldades que querem fazer à sua profissão e ao seu local trabalho. Foi giro ver caras conhecidas numa Televisão que ainda não foi vergada pelo Poder. Foi interessante ver que as pessoas estão sedentas de luta, de verdade e unidade, mesmo que isso implique sacrifício. Foi apenas um começo, mas até os adamastores da floresta foram um dia pequenos polegarzinhos, enfezados e indefesos.
Roubemos o poema e grito do poeta Gedeão, nosso irmão e mestre nestas coisas de ensinar, para aprender para onde ir com o nosso movimento cívico...
Roubemos o poema e grito do poeta Gedeão, nosso irmão e mestre nestas coisas de ensinar, para aprender para onde ir com o nosso movimento cívico...
Poema das árvores
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.
in Novos Poemas Póstumos, António Gedeão
1 Comments:
At 15 de março de 2018 às 14:52, Unknown said…
Acabei de descobrir seu site, uau, é realmente bom e em francês. Parabéns, continue com o bom trabalho. Eu vou voltar e anunciar para o seu site.
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