GeoLeiria

Este Blog pretende ser o ponto de encontro e debate dos Geólogos em/de Leiria e de todos aqueles que gostam desta ciência ou de Biologia, Geografia, Ambiente e Astronomia, entre outras. Criado no âmbito do Projecto Ciência Viva VI "À descoberta da Geologia em Leiria", com membros nas Escolas Correia Mateus e Rodrigues Lobo, Núcleo de Espeleologia de Leiria e Centro de Formação de Leiria, neste local serão colocadas novidades locais, nacionais e internacionais, actividades de Escolas e outros.

terça-feira, junho 10, 2008

Dia de Portugal - António Gedeão



Poema da Alfarrobeira



Era Maio, e havia flores vermelhas e amarelas

nos campos de Alfarrobeira.



O homem,

de burel grosso e barba de seis dias,

arrastava os tamancos e o cansaço.

Ao lado iam seguindo os bois puxando o carro,

naquele morosíssimo compasso

que engole o tempo ruminando o espaço.



Era um velho mas tinha a voz sonora

e com ela incitava os bois em andamento,

voz cantada que os ecos prolongavam

indefinidamente.

Era um deus soberano e maltrapilho

a cuja imperiosa voz aquelas massas

de carne musculada

maciça, rude, bruta, inamovível,

obedeciam mansas e seguiam

no sulco aberto

como se um pulso alado as dirigisse,

mornas e sonolentas.



A voz era a de um deus que os mundos cria,

que do nada faz tudo,

que vence a inércia e anula a gravidade,

que levita o que pesa e o trata como leve.

Potência aliciadora alonga-se e prolonga-se

nos plainos da paisagem,

enquanto os animais prosseguem no caminho

do seu quotidiano,

pensativos e absortos.



Lá em baixo, na margem do ribeiro,

estendido sobre a erva,

jaz o infante.

Do seu coração ergue-se a haste de um virote

erecta como um junco,

e já nenhuma voz o acordará.



in Novos Poemas Póstumos – António Gedeão