GeoLeiria

Este Blog pretende ser o ponto de encontro e debate dos Geólogos em/de Leiria e de todos aqueles que gostam desta ciência ou de Biologia, Geografia, Ambiente e Astronomia, entre outras. Criado no âmbito do Projecto Ciência Viva VI "À descoberta da Geologia em Leiria", com membros nas Escolas Correia Mateus e Rodrigues Lobo, Núcleo de Espeleologia de Leiria e Centro de Formação de Leiria, neste local serão colocadas novidades locais, nacionais e internacionais, actividades de Escolas e outros.

terça-feira, setembro 04, 2007

Bioespeleologia

Temos uma estreia neste Blog. Foi com muita honra que aceitei o convite formulado pelo (Geo)Fernando Martins para colaborar no GeoLeiria.
Passemos a um assunto que me é particularmente querido: A Bioespeleologia!
A Bioespeleologia, como o próprio nome indica, dedica a sua área de estudo aos seres vivos que habitam as grutas. Este ramo do saber inicia a sua história com a descrição do Proteus anguinus, em 1768. O Proteus é uma salamandra cavernícola, com cerca de 30 cm de comprimento, 79 anos antes tinha sido descrita como sendo um juvenil dos dragões que habitavam as cavernas do carso dinárico.


Mr. Proteus anguinus

Proteus anguinus, único vertebrado troglóbio (conhecido) da Europa


O estudo dos organismos que habitam o mundo subterrâneo só viria a ser efectuado de uma forma sistemática, no início do século passado, pelos fundadores da "Biospeologica": Emil Racovitza e Renné Jeannel. Este estudo ganha impulso com a construção de Laboratórios Subterrâneos, como o de Moulis (França). No ano de 1907, Racovitza publica uma obra intitulada "Essai sur les problèmes biospéologiques", a primeira obra de referência dedicada à problemática do estudo deste tipo de fauna.

Emil G. Racovitza


O ambiente subterrâneo condiciona as formas de vida que o habitam, e os dependentes obrigatórios deste meio, designados por Troglóbios evoluem em função das suas pressões selectivas.
A luz permite caracterizar a gruta em 3 zonas muito importantes do ponto de vista bioespeleológico: a zona iluminada, zona de penumbra e zona escura ou profunda.
A humidade relativa próxima da saturação e a ausência de variações térmicas extermas conferem a este meio uma elevada estabilidade, tornando-o um espaço a colonizar face às alterações climáticas da superfície ou à ocupação dos nichos ecológicos.

Zonas da gruta


Zonas da cavidade do ponto de vista ecológico

Mas o espaço subterrâneo (incluíndo o domínio freático) não é apenas habitado por Troglóbios. Nele podemos encontrar organismos em diferentes estados de adaptação ao meio. Por este motivo, utilizam-se as categorias ecológicas: Trogloxenos e Troglófilos para designar organismos de ocorrência acidental e organismos com algumas afinidades ao meio mas que não exibem troglomorfismos (as adaptações ao ambiente subterrâneo). No caso dos organismos aquáticos utiliza-se a mesma nomenclatura mas com o prefixo Stigo.

L. hochenwartii Schmidt, 1832

Leptodirus hohenwartii, o primeiro coleóptero cavernícola descrito em 1932 na Eslovénia

Face à escassez de recursos alimentares, os troglóbios apresentam troglomorfismos semelhantes em diferentes graus consoante as espécies. Normalmente são despigmentados, apresentam ausência ou redução das estruturas oculares, proliferação de outros sistemas sensoriais, ausência de asas (insectos) e apresentam corpos mais estilizados. As adaptações não são apenas morfológicas, estes organismos apresentam estratégias de reprodução mais eficientes para o meio em questão e mecanismos fisiológicos distintos.

Nesticus lusitanicus Fage, 1931

Nesticus lusitanicus, Aranha troglóbia do Maciço Calcário Estremenho

Talvez para a maioria das pessoas, os habitantes mais famosos das grutas sejam os morcegos. Algumas espécies de morcegos utilizam as cavidades em determinadas fases do se ciclo de vida: para hibernação, para procriação e como refúgio durante o dia, contribuindo com grandes quantidades de matéria orgânica que sustenta outro tipo de habitantes das grutas.

Colónia de Morcegos
Colónia de morcegos (Myotis myotis) no Maciço Calcário Estremenho

Na realidade as grutas, não são o habitat dos troglóbios, são uma ínfima parte de todas as fendas, instertícios e espaços ocos que compõe o que se esconde debaixo dos nossos pés, no entanto são os únicos locais onde podemos observar os troglóbios. As Grutas são janelas para a observação este tipo de fauna.

Portugal Cave

Como dizia o Michell Bouillon no seu livro A Descoberta do Mundo Subterrâneo: "A exploração do meio Subterrâneo e o seu conhecimento constituem uma aventura sem fim".

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