GeoLeiria

Este Blog pretende ser o ponto de encontro e debate dos Geólogos em/de Leiria e de todos aqueles que gostam desta ciência ou de Biologia, Geografia, Ambiente e Astronomia, entre outras. Criado no âmbito do Projecto Ciência Viva VI "À descoberta da Geologia em Leiria", com membros nas Escolas Correia Mateus e Rodrigues Lobo, Núcleo de Espeleologia de Leiria e Centro de Formação de Leiria, neste local serão colocadas novidades locais, nacionais e internacionais, actividades de Escolas e outros.

sábado, maio 31, 2008

Notícia do Público sobre um grupo de pterossauros

Voavam mas preferiam o chão
30.05.2008, Teresa Firmino

Entre os pterossauros, estavam as maiores criaturas que já cruzaram os céus. Desde
os anos 70 que os cientistas estão intrigados quanto ao modo de vida destes monstros. Como caçavam as presas? Em voo picado sobre mares e lagos?

Eram répteis voadores do tempo dos dinossauros e, tal como eles, extinguíram-se há 65 milhões de anos. Dominavam os céus e alguns chegavam a ter dez metros bem medidos de uma ponta à outra das asas, como uma avioneta. Supunha-se que praticamente todos os pterossauros eram criaturas de hábitos aquáticos, como as gaivotas ou pelicanos de agora: voariam sobre os lagos e oceanos à procura de comida e, mal avistassem a potencial refeição, zás, apanhavam-na da água em pleno voo e seguíam com ela no bico. Pois supunha-se erradamente. Havia um grupo de pterossauros gigantes - alguns dos seus representantes eram mesmo os maiores animais que alguma vez voaram na Terra - que estava muito bem adaptado à vida em terra firme. Eram (e agora não se assuste com o nome aportuguesado) os azhdarquídeos.
Se quisermos perceber como era o modo de vida destas avionetas pré-históricas, não devemos imaginá-las como as gaivotas ou pelicanos modernos, mas um pouco como as cegonhas. Caçavam as presas em terra firme, baixando o bico para as apanhar, e estavam bem apetrechados para essa vida terrestre, revela uma equipa de cientistas britânicos na última edição da revista PLoS ONE, de acesso livre na Internet.

Nove espécies
Mark Witton e Darren Naish, da Universidade de Portsmouth, estudaram o esqueleto de fósseis de azhdarquídeos na Grã-Bretanha e na Alemanha, viram pegadas deles na Coreia do Sul e ainda leram um sem-fim de artigos científicos com as descrições de fósseis espalhados por todo o mundo. Este grupo específico de pterossauros, sem dentes, encontrava-se distribuído por toda a Terra, durante o período do Cretáceo, entre há 140 e 65 milhões de anos. "O nosso magro orçamento para investigação não nos permite viajar de avião à volta do mundo...", diz-nos Mark Witton por e-mail.
Neste momento, conhecem-se nove espécies de azhdarquídeos, umas muito grandes, outras nem tanto. O Hatzegopteryx era a maior, com os seus exemplares a atingirem três metros de altura até ao ombro, um bico de dois metros e uma envergadura de asas de 10 a 12 metros. Na imagem, podemos ver bem a diferença de tamanho em relação a um humano, como mostra a fotografia de Mark Witton ao lado da criatura monstruosa. Ela rivalizava mesmo com qualquer girafa em termos de altura. Outro distinto representante dos azhdarquídeos, o Quetzalcoatlus, não ficava muito atrás, com cerca de dez metros de envergadura de asas.
Voavam, tal como os outros pterossauros, só que também se sentiam bastante confortáveis cá em baixo. A sua anatomia bastante bizarra não ajudava muito os paleontólogos a perceber qual era a forma de vida destes pterossauros. Tinham pescoços muito compridos e rígidos, crânios enormes e patas longas. Apesar de serem autênticas avionetas pré-históricas, as asas eram proporcionalmente curtas.
"Como ninguém olhava realmente para a sua ecologia com atenção, os paleontólogos tinham dificuldade em perceber como é que os azhdarquídeos se alimentavam. Também não ajudava o facto de não haver nenhum animal que realmente se pareça com eles, por isso não há nada que permita fazer comparações directas", conta Mark Witton. Actualmente, os seus análogos mais próximos são, por exemplo, as referidas cegonhas.
"Os azhdarquídeos tornaram-se razoavelmente conhecidos nos anos 70, mas a forma como viviam tem sido alvo de muito debate. Originalmente, foram descritos como necrófagos, como os abutres, depois disse-se que escarafunchavam a lama, enfiando os longos bicos no chão à procura de presas. Mais tarde, sugeriu-se que ganhavam a vida a voar sobre a superfície da água, de onde apanhavam peixe", explica Darren Naish, num comunicado da revista científica.
"Foram ainda sugeridos outros estilos de vida, mas todos pareciam tão radicalmente diferentes que eu e o Mark nos sentámos a examinar cuidadosamente as provas e concluímos que os azhdarquídeos eram caçadores terrestres especializados. Todos os pormenores da sua anatomia e o ambiente em que os fósseis foram encontrados mostram que ganhavam a vida a andar a pé, baixando-se para apanhar animais e outras presas", acrescenta Naish.
Uma prova a favor do estilo de vida terrestre está precisamente nas camadas geológicas onde foram descobertos os fósseis: embora alguns estivessem em sedimentos costeiros e marinhos, a maioria foi recuperada de ambientes terrestres, o que sugere que era aí que passavam grande parte do tempo.
Pés relativamente pequenos - mas almofadados, apropriados à caminhada - é outra prova desse estilo de vida. "Os pés pequenos dos azhdarquídeos não eram bons para chapinhar nas margens dos lagos ou para nadar, em caso de aterrarem na água. Mas eram excelentes para se pavonearem a pé", afirma Naish. "Comeriam pequenos animais e até fruta. Como tinham um crânio com mais de dois metros de comprimento, eram capazes de comer dinossauros do tamanho de uma raposa."
Todos os azhdarquídeos, sem excepção, gostavam de andar a pé. "As nossas observações foram feitas principalmente em animais pequenos. Só se conhecem alguns ossos dos azhdarquídeos maiores. Porém, esses ossos são muito, muito semelhantes aos das espécies mais pequenas, por isso pensamos que também eram parecidos noutros aspectos", explica-nos Mark Witton.

250 quilos no ar
A equipa estudou ainda os movimentos possíveis dos seus pescoços pouco flexíveis. "No passado, este pescoço estranhamente rígido era um problema na procura de outras ideias para o estilo de vida dos azhdarquídeos. Mas encaixa perfeitamente no nosso modelo, porque tudo quanto precisam de fazer era levantar e baixar o bico do chão", sublinha Naish.
Quanto pesariam os maiores pterossauros, aqueles que tinham as asas de uma avioneta e a altura de uma girafa? "O tamanho dos maiores azhdarquídeos é controverso, com alguns peritos em pterossauros a dizerem que pesavam apenas 50 quilos. No entanto, a minha investigação indica que estas estimativas são muito, muito baixas. Provavelmente pesavam cerca de 250 quilos", responde Witton.
E todos voavam, mesmo os maiores? "Yup, voavam. Até o maior, com 250 quilos e mais de dez metros de envergadura de asas, tinha características apropriadas no esqueleto que sugerem que podia voar. Os modelos aerodinâmicos confirmam-no. Por isso, estamos bastante confiantes de que poderiam voar com facilidade."
Os pterossauros, em geral, coexistiram no tempo com os dinossauros. Surgiram no planeta há cerca de 225 milhões de anos e desapareceram quando a colisão de um meteorito com a Terra extinguiu muitas formas de vida. Foram os primeiros vertebrados a voar e, naqueles milhões de anos todos, mantiveram-se como os principais predadores dos ares. Nunca mais houve criaturas tão grandes nos céus. De forma simples, a diferença entre pterossauros e dinossauros, ambos répteis, é que uns voavam, outros não. "Os pterossauros são parentes próximos dos dinossauros, mas não são dinossauros. Um dinossauro que voa é uma ave", esclarece Witton, para que se acabe de vez com as confusões.


in Público - edição impressa (link não disponível)